📖 Pipeline da Liderança e o desafio real de formar líderes em um mundo que (ainda) não sabe o que fazer com o poder feminino
📄 527 palavras • 🕒 2-3 min de leitura
Liderar não é subir degraus — é atravessar filtros invisíveis que poucos reconhecem e muitos ignoram.
No mundo corporativo, onde líderes são promovidos mais por performance técnica do que por prontidão emocional, Pipeline da Liderança permanece como um dos guias mais estruturados — e realistas — sobre o que significa, de fato, crescer dentro de uma organização. Escrito por Ram Charan, Stephen Drotter e James Noel, o livro propõe uma lógica que parece óbvia, mas raramente é seguida: cada nível de liderança exige uma reinvenção completa das competências, do uso do tempo e, principalmente, dos valores de quem lidera.
É uma leitura direta, prática, quase cirúrgica. E isso é bom! É excelente! Isso porque romantismo demais é o que menos se precisa quando o tema é liderança organizacional. O livro não glamouriza o cargo, não exalta perfis heroicos nem vende a ideia de que liderar é uma vocação inata - como muito dito por anos e anos nos ambientes corportivos. Ao contrário: trata a liderança como uma habilidade que precisa ser aprendida, desaprendida e reaprendida a cada nova transição.
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Foto de Aga Putra na Unsplash |
Entrento, o livro não traz um o olhar sobre a liderança feminina. O pipeline descrito pelos autores é sólido, mas também estruturalmente cego para as especificidades de gênero que impactam o desenvolvimento de líderes mulheres. Algo que é uma realidade moderna de diversas empresas, de diversos setores e de diversos tamanhos. O modelo parte do pressuposto de que todos os profissionais acessam as mesmas oportunidades e enfrentam as mesmas barreiras, o que na prática está longe de ser verdade. O mesmo mito da meritocracia. Mulheres, especialmente em cargos de alta liderança, lidam com expectativas conflitantes, estigmas persistentes e uma vigilância constante sobre comportamentos que seriam aplaudidos em colegas homens.
Há uma espécie de “camada extra” nesse pipeline para as mulheres — uma camada invisível, mas real, composta de silêncios em reuniões, de perguntas veladas sobre ambição, de julgamentos sobre firmeza confundida com agressividade e claro, da maternidade. Seja ela presente seja ela ausente, o casamento e a maternidade são questionamentos que mulheres em diversos níveis de gestão ouvem. E isso importa. Porque não basta preparar tecnicamente um líder se o ambiente ao redor não estiver preparado para reconhecê-lo como tal.
Ainda assim, o livro segue sendo uma leitura necessária. Ele oferece clareza sobre o que esperar (e o que exigir) de quem deseja ser mais do que um chefe funcional. E para quem já entendeu que promover diversidade vai além de contratar perfis diferentes — envolve cultivar contextos seguros para que esses perfis liderem com legitimidade —, o Pipeline da Liderança pode ser uma excelente base de partida. Desde que, é claro, você esteja disposta a fazer a leitura crítica que o tempo atual exige.
orque desenvolver líderes não é apenas mapear competências. É também abrir espaço para que outras vozes liderem sem precisar se encaixar nos moldes de sempre.
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