Heidi e uma Suíça menos romantizada

Todo país possui uma estória para ilustrar sua cultura, a Suíça possui a Heidi.

Imagem da Internet

Criada em 1880 pela autora Johanna Spyri, Heidi conta a estória de uma menina órfã de 5 anos que vivia com a tia. Quando sua tia encontra um emprego em Frankfurt (am Main), na Alemanha, ela é enviada para morar com seu avô paterno nos Alpes suíços - um velho extremamente carrancudo e grosseiro. Após uma temporada com seu avô, o qual já havia se acostumado com a sua presença, sua tia a leva para trabalhar em Frankfurt e ser a companheira da rica Klara, uma moça cuja mãe havia falecido.

Heidi retrata a situação sócio econômica da Suíça daquela época e de um passado não tão distante,  que mostra a pobreza e miséria, um cenário que difere bastante do atual, do pós Segunda Guerra Mundial: de um país rico e próspero. Retrata a variação linguística dentro da própria Suíça, um país pequeno, mas com quatro línguas oficiais (alemão, francês, italiano e romanche). Demonstra a variação dos dialetos alemães, com suas particularidades em cada Cantão, assim como a diferença entre os dialetos das cidades e o falado nos Alpes. Em como o Schweizerdeutsch (suíço alemão falado nos Cantões e nos Alpes) e o Haut deutsch (o alemão geral/alto alemão) falado em Frankfurt e em toda a Alemanha, são tão diferentes não apenas na fala, mas no próprio uso da gramática. Este é um ponto de delírio aos linguistas.

Heide é sem dúvida a estória infantil mais conhecida e admirada na Confederação Helvética (o nome oficial da Suíça). Um conto que une os cantões, independente dos dialetos ou idiomas, é o retrato da pobreza e miséria dos helvéticos ao longo de séculos, do trabalho duro, das dificuldades cotidianas e da luta contra as maiores adversidades que o clima extremo pode trazer. Por um longo tempo os suíços aprenderam a lidar com o mínimo para sobreviver e Heide, demonstra com doçura e inocência tamanho sacrifício. 

Foto oficial do filme "Heidi"

Há também dois grandes pontos extremos que podem não levantar de imediato ao leitor e/ou expectador uma curiosidade, mas são muitíssimos interessantes e trágicos: O trabalho infantil, como produto de exportação dos suíços e que em uma realidade extremamente dramática expunha diversas crianças e jovens à vários tipos de exploração (física, mental e sexual) - Verdingkinder; e o sentimento de saudade que se transforma em doença e que acometeu muitos suíços que tiveram de deixar sua terra. Tal sentimento é retratado com a mesma ênfase e importância aos escravos trazidos da África, o Banzo


Pôster Oficial do Filme
O filme mais novo de Heidi foi lançado em 2015 e tem como o avô nada menos que Bruno Ganz, que interpretou Hitler no filme "A Queda, as últimas horas de Hitler". O filme está disponível com áudio original que novamente coloca os linguístas em êxtase. Já para os estudantes de alemão, como eu, em um nível de desespero agudo. Em suíço alemão e suas variações cantonais, assim como em alemão geral (Haut deutsch). Também possui falas iniciais em um dos dialetos dos Alpes, o que não exigirá dos falantes de português, ou um idioma latino, qualquer legenda. 

Se deliciem com este conto fantástico, cheio de aventuras e que lhe roubar algumas lágrimas.
Bis bald, merci!












Comentários

Postagens mais visitadas